Como reconhecer uma nutricionista comportamental?
Saiba o que é Nutrição Comportamental e como reconhecê-la
Há alguns anos, quando eu dizia que era nutricionista comportamental, a resposta mais provável era: nutricionista o quê?! Já hoje em dia, o termo Nutrição Comportamental é bem mais conhecido e boa parte das pessoas pelo menos já ouviu falar nele. Porém, isso não significa, infelizmente, que ele passou a ser bem entendido. Pelo contrário, já ouvi fala bem equivocadas, como: Nutrição Comportamental para emagrecer; ou mesmo dieta comportamental, ou outros termos semelhantes, o que significa que há muito desconhecimento do que é de fato Nutrição Comportamental.
Vamos falar sobre o que é realmente ser um nutricionista comportamental?
O que é Nutrição Comportamental?
A Nutrição Comportamental surgiu no Brasil em meados de 2015, através de nutricionistas e pesquisadoras da USP. Estas pesquisadoras (como Marle Alvarenga, Cynthia Antonaccio, Samantha Macedo, Manoela Figueiredo e Fernanda Timerman) perceberam a importância de trazer para o Brasil abordagens do comportamento alimentar estudadas em outros países. Estas profissionais, que atuavam principalmente na área de transtornos alimentares e que buscavam abordagens mais eficazes e humanizadas para além das dietas restritivas, perceberam a necessidade de trazer essas perspectivas para o contexto brasileiro. Assim, iniciaram o movimento da Nutrição Comportamental, promovendo eventos, publicando livros e oferecendo cursos sobre estas abordagens.
Hoje, a Nutrição Comportamental é considerada uma área inovadora dentro da Nutrição que busca compreender a relação complexa que os indivíduos estabelecem com a comida, indo além dos aspectos fisiológicos e nutricionais. Ela integra conhecimentos da Nutrição com a Psicologia e outras ciências do comportamento para entender e modificar os hábitos alimentares de forma positiva e sustentável.
A Nutrição Comportamental estuda e promove diversas abordagens relacionadas ao comportamento alimentar, como:
Intuitive Eating/Alimentação Intuitiva: Promove o ouvir e respeitar os sinais internos de fome, saciedade e prazer para guiar as escolhas alimentares.
Mindful Eating/Alimentação Consciente: Promove a prática de atenção plena durante as refeições, focando nas sensações, sabores, texturas e emoções envolvidas no ato de comer.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) na Nutrição: Promove o identificar e modificar pensamentos e crenças disfuncionais relacionados à comida e ao corpo.
Entrevista Motivacional: Utiliza técnicas de comunicação para explorar a motivação do paciente para a mudança.
Aconselhamento Nutricional: Promove uma relação horizontal entre nutricionista e paciente e a construção mútua entre ambos.
Competências Alimentares: Promove habilidades práticas relacionadas à seleção, compra, preparo e consumo de alimentos de forma saudável e prazerosa.
Na minha trajetória de uma década estudando a Nutrição Comportamental, tive a oportunidade de estudar sobre todas estas abordagens, e as utilizo em meu consultório. Particularmente, trabalho muito com o Aconselhamento Nutricional, a TCC e o Intuitive Eating (nesta, fiz a formação oficial diretamente na fonte, com as criadoras da abordagem, inclusive com sessões individuais! Sou atualmente uma das únicas seis brasileiras certificadas oficialmente na abordagem).
Então, como reconhecer uma nutricionista comportamental?
Premissas importantes da Nutrição Comportamental:
É importante ainda acrescentar que, apesar de a Nutrição Comportamental estudar diversas abordagens diferentes entre si, todas elas estão alinhadas com as mesmas premissas. Por isso, para um nutricionista se dizer Nutricionista Comportamental, é preciso que ele trabalhe segundo estas premissas:
Nunca considerará que o paciente tem falta de força de vontade! O profissional sempre entenderá que existem causas para as dificuldades alimentares, não considerando-se ser falta de força de vontade.
Seu foco será no comportamento alimentar: Em vez de prescrever dietas restritivas, o profissional buscará entender as razões, crenças e fatores envolvidos no comportamento do paciente em relação à comida.
Seu foco primário não é a perda de peso: O objetivo principal não é o emagrecimento, mas sim trabalhar os comportamentos alimentares disfuncionais. A perda de peso pode ser e muitas vezes é uma consequência (pois eliminando-se os comportamentos alimentares disfuncionais, em geral se elimina as causas do ganho de peso), mas não o foco inicial. Por isso, não existe ‘nutrição comportamental para emagrecimento’!
Não te passará várias restrições alimentares: O trabalho não é baseado em restringir alimentos ou nutrientes, a menos que haja uma necessidade específica.
Seu foco será na mudança de hábitos a longo prazo: Em vez de soluções rápidas e restritivas, a nutrição comportamental visa construir hábitos alimentares saudáveis e duradouros, que se encaixem na realidade e no estilo de vida de cada pessoa.
Por fim, com a crescente popularidade da Nutrição Comportamental, é importante ter cuidado ao escolher um profissional, verificando-se sempre sua qualificação profissional e também conferindo sua abordagem (se o profissional foca em restrições alimentares e emagrecimento rápido, ele não segue abordagem comportamental!).
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Por Nathália Petry, nutricionista e escritora
www.nathaliapetrynutricionista.com
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